quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Fidus Interpres - A Prática da Tradução Profissional

Iniciando a série de posts sobre livros de tradução, tentarei falar um pouco sobre o livro Fidus Intepres – A Prática da Tradução Profissional. Digo que tentarei porque, apesar das minhas boas intenções ao levar a vocês algumas resenhas pessoais sobre livros de tradução, estou numa posição um pouco desvantajosa ao escrever sobre um livro tão rico e que já recebeu tantos elogios.
Eu conheci o livro no começo de 2011 através da minha amiga, e também tradutora, Paula Maurício. Paula, que veio da área de Relações Internacionais, estava dando uma virada em sua vida profissional e resolveu investir profissionalmente na carreira de tradução. Nos conhecemos na Pós-Graduação que estamos concluindo em Metodologia da Tradução em Língua Inglesa e, ao saber do meu amor por livros e em especial, a obsessão por livros de tradução, ela disse que iria me emprestar um livro muito bom que tinha comprado. Fiquei bastante ansioso e surpreso, no dia em que o recebi, ao pegá-lo em minhas mãos e não reconhecer naquele momento o autor ou o assunto do livro. Tinha me acostumado a pesquisar bastante sobre a área e mesmo os livros que não tinha lido me eram familiares pelas referências citadas em trabalhos ou pelo nome do autor. Confesso que a primeira impressão (causada talvez pelo título em latim) foi de que o livro era um manual de como bem traduzir, ao estilo de muitas obras prescritivas que apareceram durante os séculos 16 até o 20.

Ao folheá-lo, no entanto, mudei rapidamente a percepção e comecei a me interessar pelos assuntos muito atuais, pela estrutura acessível dos capítulos, e principalmente pela abordagem extremamente prática e pé-no-chão com que o ofício da tradução é tratado. Se há um comentário recorrente que percebi em todas as resenhas que li é o que alega o quanto o livro teria sido importante no início da carreira de tradutores hoje já experientes, e do quanto teriam se beneficiado com as dicas e macetes ali presentes se existisse um manual assim no tempo deles. Vou cair no lugar comum e repetir esse mesmo argumento aqui, mas com uma ressalva: eu também teria adorado ter conhecido esse livro antes, mas acho que na nossa profissão estamos sempre nos renovando e aprendendo a acompanhar as evoluções que o mundo nos apresenta, que o mercado nos impõe e que os clientes nos exigem. Sendo assim, Fidus Interpres não poderia ter vindo em hora melhor.

O livro é filho do blog profissional homônimo do tradutor brasileiro radicado na Alemanha, Fábio Said. Durante vários anos, ele enriqueceu o blog com dicas valiosas e contribuições estimulantes sobre a profissão de tradutor e tudo o que a ela possa estar ligado. O livro veio como uma consequência do grande interesse que as pessoas vinham e vêm mostrando para com a área, e não só dos profissionais, mas de muita gente que ultimamente tem aberto os olhos para essa profissão tão presente em nossas vidas, mas que de tão discreta às vezes é dita invisível.

O Autor

Creio que o que destaca Fábio Said de muitos outros profissionais por aí é a sua postura ética, extremamente profissional e pragmática e, principalmente, o comprometimento em ajudar os principiantes e interessados na tradução. Numa época em que atitudes colaborativas têm sido bastante valorizadas, mas que alguns ainda tendem a ignorá-las, visando simplesmente ao lucro pessoal a todo custo, Fábio sobressai como um profissional singular. Digo isso sem nenhum exagero ou puxa-saquismo. Reflita comigo: ser tradutor representa, na maioria esmagadora dos casos, ser um profissional autônomo, freelancer. Ou seja, seu tempo é valioso, já que além de prospectar novos clientes, fidelizar os antigos, mostrar sempre sua cara para o mercado, se destacar num mar de pessoas incapacitadas que acreditam que passar um mês na Disney a habilita a traduzir, você ainda precisa efetivamente pesquisar, traduzir, revisar, cobrar clientes e ter uma vida minimamente pessoal. Onde ficaria o tempo para se dedicar a qualquer outra coisa que não fosse sua carreira? Pois, além de dar conta de tudo isso, Fábio ainda encontra tempo para conduzir seriamente seu blog, com postagens regulares e de interesse genuíno, responde com presteza a quem entra em contato com ele e como se não fosse trabalho demais, resolveu ir além e publicar de forma independente o livro Fidus Interpres.

A Obra

Quem mexe com mercado editorial e entende alguma coisa sobre isso deve fazer ideia do quanto é difícil conseguir ser publicado. É preciso ralar bastante, sair batendo na porta de várias editoras e torcer para que a sua peregrinação um dia dê resultado. Se der e você fizer sucesso, dá até para se sentir recompensado e deixar a editora fazer o resto do trabalho. Mas, como Fábio não ia ficar perdendo tempo por aí atrás de editora e correndo o risco de esperar muito tempo até conseguir ser publicado, ele seguiu sua tradição e resolveu tudo por conta própria. Mais uma vez, puxou a responsabilidade para si, acreditou no seu projeto e hoje o livro já está em sua segunda edição, com conteúdo extra sobre ética profissional, além de poder ser encontrado em versão digital e-book.

O fato de este livro não ter sido publicado por uma editora comercial em nada afetou sua qualidade gráfica ou distribuição. A capa da segunda edição está ainda mais bonita, com cores agradáveis, e um tratamento de primeira. Quanto à distribuição, é possível encontrá-lo online no site do Clube de Autores, através do próprio blog Fidusinterpres.com e até na Amazon! Sempre há promoções e você pode até entrar em contato direto com o autor e encomendar uma cópia autografada. Para quem é de Pernambuco, o livro está disponível na livraria SBS.

A Prática Profissional

Quem acompanha meu blog regularmente ou pelo menos leu o post sobre o I Encontro de Tradução em Pernambuco viu que eu apresentei uma palestra em que trato da questão do ensino da Tradução nas Universidades Brasileiras. Uma das minhas maiores queixas é do excessivo mergulho na teoria e quase total esquecimento da prática. Os que me conhecem sabem que eu não sou contra a teoria; pelo contrário, ela é importantíssima para nos dar os alicerces sobre os quais construir a nossa prática, mas teoria em excesso acaba não se traduzindo em nada (com o perdão do trocadilho) se não houver a prática para corroborá-la ou refutá-la. É nesse sentido que o livro Fidus Interpres vem preencher uma lacuna gritante em termos de material de leitura sobre tradução com foco nas atividades profissionais dos tradutores. 

Ainda hoje, 4 anos depois de formado em Tradução e terminando uma pós, quando alguém vem me perguntar sobre relação com clientes, regras de preço, como redigir um currículo de tradutor ou ferramentas de tradução, titubeio um pouco para responder que não aprendi nada disso na Universidade. Muita coisa lá girava (e creio que se o curso da Federal de Pernambuco ainda existisse continuaria a girar) em torno da questão da fidelidade do tradutor e do maldito ditado traduttori tradittori. Gente, essa é uma discussão que vem desde Cícero na História Antiga, e é até importante conhecer seus desdobramentos, mas a profissão está longe de se resumir a isso. Nunca vamos chegar a um acordo sobre o que é melhor, ser fiel ao original ou à língua receptora, mas precisaremos, sim, decidir quando aplicar qual viés quando estivermos prestando um serviço a um cliente. O bom, hoje, é que quando essas mesmas pessoas me perguntam coisas práticas eu não preciso indicar fontes esparsas e me confiar apenas na experiência própria, apresento a elas o livro Fidus Interpres.

Talvez por ainda não figurar entre os mais conhecidos livros de tradução, alguns professores desconheçam a obra e se espantem quando alguns alunos chegam com ela para lhes mostrar. Infelizmente, nesse sentido alguns docentes estão para trás e não conseguem acompanhar tudo o que vem surgindo mundo afora. Por isso, se torna importante divulgar obras como esta e seguir a linha que Fábio adota de proporcionar conhecimentos úteis a quem se encontra perdido no início da profissão, ou aos que querem ingressar nesse ramo e não têm noção do escopo que ela abrange. Fui convidado a ministrar uma disciplina de tradução para meios audiovisuais (dublagem e legendagem) na turma de pós-graduação de Tradução ano que vem e sem dúvida introduzirei nas leituras recomendadas e lidas em sala este livro. A Universidade deve começar a olhar para fora de seus muros e colher de lá os frutos provenientes daqueles que já passaram por ela e hoje estão bem sucedidos em sua carreira.

Como eu falei lá em cima, a estrutura do livro é tão bacana que mesmo depois de lê-lo, você sente prazer em continuar voltando a ele para consultar uma ou outra dica bacana que aprendeu. A organização é prática e você consegue encontrar rapidamente um tópico, podendo até lê-los fora de ordem sem prejuízo para o entendimento. Uma das partes que eu mais gostei foi sobre as ferramentas para aumentar a produtividade no dia a dia e também a seção sobre refinamento de buscas em sites como o Google.

Mas, se eu continuar tratando de cada capítulo aqui vou acabar entediando você, leitor, e isso não faria jus à excelente escrita do Fábio. Além do que, o objetivo é também deixá-lo curioso para ir buscar a obra. Todavia, recomendo fortemente a excelente resenha publicada no último boletim da ATA (A Associação de Tradutores Americanos) feita por Peter Gergay e encontrada aqui. A resenha está em inglês e trata minuciosamente de cada capítulo. 

Fábio já sinalizou o interesse de nos brindar com mais livros para 2012/2013. Pois que venham mais obras como essas para enriquecer nossos conhecimentos!

No Próximo post falarei do livro Conversas com Tradutores.


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Até lá.





quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Livros, livros, livros

Entre livros que li, livros que lerei...


Dentre os meus vários passatempos, existe um que é um vício muito forte. Algo que realmente me consome e me deixa com uma síndrome de abstinência terrível quando não pratico: a leitura. Eu adoro ler. Mesmo. De tudo: ficção, obras de fantasia, biografias, enciclopédias, etc. Infelizmente, com tanta coisa que a gente precisa dar conta nas rotinas diárias, nem sempre me sobra tempo para ler mais o que eu gostaria.

Este ano, até o momento de publicação deste post eu li 34 livros. É pouco, eu sei. Nas minhas resoluções de ano novo eu tinha prometido 52 livros em 2011, o que daria uma média de 1 livro por semana. Mas, eu comecei o ano meio devagar e só vim entrar em velocidade de cruzeiro por volta de março. Vou tentar ler mais um seis livros e fechar o ano em 40 para superar a quantidade de 2010.

Mas, o propósito deste post não é só ficar me lamuriando de não ter mais tempo para a leitura. É, sim, poder começar a compartilhar um dos tipos de livros que me estimulam muito, por causa da minha profissão. Livros sobre Tradução. Não adianta nada a gente ler e não compartilhar, não é verdade? Se tem uma coisa que eu gosto de fazer, depois de ler livros, é divulgar as boas obras para outras pessoas partilharem da alegria da descoberta junto comigo. Porém, não é todo mundo que vai gostar de ler sobre tradução como eu gosto. As pessoas vão preferir saber de algum best seller do momento, alguma obra de fantasia, ou romance de vampiro. Nada contra essas histórias, entre uma e outra leitura mais técnica eu gosto de desanuviar minha mente com histórias fantásticas também. Mas sendo este um blog que trata de tradução, quis aproveitar o ensejo e iniciar uma série de posts sobre livros de tradução.

Mais uma vez, nem todos os livros de tradução que eu li seriam de interesse até de quem gosta de ler sobre o assunto. Então resolvi pegar uns 7 ou 8 livros que valessem a pena uma resenha e os separei para tentar despertar em vocês uma ponta de curiosidade de irem atrás deles saber mais um pouco sobre essa prazerosíssima profissão. Os livros vão variar, desde os que têm uma abordagem mais prática e direta, excelente para quem não quer saber de muita teoria, como o Fidus Interpres, de Fábio Said, e Traduzir com Autonomia, de Fabio Alves, passando pela História da Tradução, na Europa e no Brasil – uma viagem fascinante e poderosa, acreditem, até chegar numa leitura bem descontraída sobre a profissão de intérprete com o livro Sua Majestade, O Intérprete, de Ewandro Magalhães.

O que vem por aí...

É claro que com o tempo eu posso me lembrar de outros, mas não quero que a lista fique extensa demais. O legal é trazer um repertório bacana e estimulante, assim quem é da profissão fica mais cônscio de seu papel, e quem tem curiosidade pelo ofício aprende mais e valoriza essa atividade. Creio que a época também será propícia, pois para muitas pessoas as férias se aproximam, sobra mais tempo para o descanso e a leitura, há várias promoções nos sites e chega novamente a hora de pensar no próximo ano. Para os tradutores, pode ser a oportunidade de finalmente se organizar para fazer aquela especialização que vêm adiando; para outros, pode ser a hora de se profissionalizar na tradução, que antes era só encarada como um bico. Para o estudante pode ser o fator que vá ajudar na escolha da profissão no vestibular... (bem, aí já estou forçando demais a barra).

No próximo post, vou falar do livro Fidus Interpres – A Prática da Tradução Profissional. Uma obra fantástica, que tem recebido muitas críticas positivas e cada vez mais vem ganhando o espaço e o respeito merecido.

Então não percam. Usem a ferramenta aí do lado para assinar o feed do blog e receber as postagens diretamente no seu email e não corra o risco de perder a dica da semana.

Abraços.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Você tem um tempo para mim?



Eu sou fascinado pela questão do tempo. Quando vi o trailer do filme “O Preço do Amanhã” (In Time), sabia que não podia deixar de ver esse filme.

Quantas vezes a gente não se pega dizendo: “Se eu tivesse mais tempo eu... (complete aqui com qualquer desejo que você queria realizar, se tivesse tempo)”. Eu vivo dizendo isso: se eu tivesse mais tempo eu leria todos os livros da Livraria Cultura, assistiria a mais filmes, acompanharia mais séries, escreveria muito mais pro meu blog, leria todos os blogs que eu acompanho, escreveria mais artigos, viajaria mais, voltaria a malhar, e por aí vai.

Uma das coisas que eu escuto, e que de vez em quando repito, é – “queria que meu dia tivesse 36h ou 48h”. A bem da verdade, se isso fosse possível seríamos tão ansiosos e ocupados quanto somos hoje e as prováveis “horas extras” não ficariam lá à toa para nós usarmos ao bel-prazer. Afinal, alguém precisaria trabalhar mais para manter o mundo girando e a economia fluindo. Ou seja, de nada adiantaria. A gente tem que se virar com o que tem. Mas, e se mesmo o que você tem lhe fosse tirado?

O que me chamou atenção no filme é sua interessante premissa. No futuro retratado nessa realidade, as pessoas negociam o tempo, e não dinheiro. Quer um cafezinho? Custa 4h da sua vida; uma viagem de ônibus? São duas horas. Você poderia até achar barato, desde que não soubesse quando iria morrer, mas e se só tivesse um dia?

As pessoas ali vivem “de graça” até os 25 anos de idade; daí em diante vão gastando suas horas de vida, que são marcadas no braço e vão sendo descontadas como dinheiro para o que quer que precisem. Se não conseguirem um jeito de ganhar mais horas, pelo trabalho, por doação ou como quer que seja, podem simplesmente cair mortas. Por outro lado, as pessoas ricas, que têm muitas horas, podem ser imortais. Alguém pode ter herdado séculos de vida dos antepassados, ou ter acumulado décadas através de riqueza ou de tempo roubado de outras pessoas.

O país é dividido em fusos horários. Quanto mais para o leste, mais ricas são as pessoas, o acesso é quase impossível para quem não é de lá e o ritmo de vida é bem tranquilo. As pessoas lá não têm pressa, pois têm “todo o tempo do mundo para gastar”. Já no fuso que vive o personagem principal, a vida é mais agitada, as pessoas têm pressa e correm para tudo, pois têm poucas horas e tudo custa caro. Quase sempre elas têm que viver, literalmente, um dia de cada vez. A féria do dia é paga no final do expediente com o acréscimo de horas em seus braços.

Como eu sou tradutor e interessado em línguas, uma das coisas bem sacadas é a linguagem criada para falar do tempo. Para perguntar se você vem de uma família muito abastada em horas de vida, se pergunta: “do you come from time?” Se seu tempo está acabando você diz, “you’re timing out”. Um personagem desiludido no começo do filme, por já ter vivido muitos séculos, decide que não quer mais viver e doa seu século restante de vida ao protagonista, desconhecido para ele, que o salvou de uma briga de bar. Enquanto um deles dorme, o doador lhe passa todas as horas de vida, ficando com apenas 5 minutos, e deixa um recado na janela: “Don’t waste my time”. Fantástico né. Adoro essas sacadas.

Ao assistir ao filme, não pude parar de pensar num livro que li há alguns anos e que me marcou muito: “As Viagens de Gulliver”, de Jonathan Swift. Muita gente pensa que é uma história infantil, uma fantasia criada para entreter as crianças. Mas, essa é só a versão que a Disney enfeitou pra colocar na telona. A versão completa é bem diferente. Chega a ser até ácida e sarcástica. O livro tem várias críticas à sociedade britânica da época e o personagem aborda algumas questões filosóficas, dentre elas, a imortalidade.


No filme “O Preço do Amanhã” algumas poucas pessoas podem ser imortais à custa de outras que nunca viverão até a velhice. O personagem do início, aquele do don’t waste my time, diz que não aguenta mais ter vivido tanto. Chega uma hora em que ele quer apenas morrer. Parece macabro, mas será que a imortalidade seria uma coisa boa mesmo?

Eis o que Gulliver nos diz em seus diários de viagens:

“Por vezes, conquanto mui raramente, acontecia de nascer numa família uma criança com uma marca vermelha circular na testa, o que era sinal infalível de que ela jamais morreria. Tais nascimentos eram tão raros que não acreditava haver mais de mil e cem Struldbruggs ou Imortais de ambos os sexos em todo o Reino. Essas ocorrências não eram específicas de nenhuma família, porém um mero efeito do acaso, e os filhos de Struldbruggs eram tão mortais quanto o resto do povo.

Confesso que senti então um prazer inexprimível ao ouvir tal relato e disse eu, como se num êxtase: Feliz a Nação onde toda criança tem ao menos uma chance de ser imortal! Feliz o povo que dispõe de tantos exemplos vivos da virtude antiga, e mestres prontos para instruí-los na sabedoria de todas as eras passadas! Porém, felizes acima de todos aqueles excelentes Struldbruggs, que por nascerem isentos dessa calamidade universal da natureza humana, têm as mentes livres e bonançosas, sem o peso e a depressão de ânimo causada pela constante apreensão da morte.

Se tivesse eu tido a boa fortuna de vir ao mundo um Struldbrugg eu tentaria por meio de todas as artes e métodos, obter riquezas. Com esse fito, por meio da economia e boa administração, seria razoável supor que em cerca de 200 anos eu me tornasse o homem mais rico do Reino. Em segundo lugar, desde a mais tenra juventude dedicar-me-ia ao estudo das artes e ciências e assim com o tempo haveria de superar a todos em matéria de saber. Haveria eu de registrar com exatidão as diversas mudanças nos costumes, línguas, modas, vestimentas, dieta e diversões. Por meio de todas essas realizações, eu seria um tesouro vivo de conhecimento e sabedoria, e decerto tornar-me-ia o Oráculo da Nação.”

Essa imagem positiva da imortalidade é o que muita gente deve nutrir. Muitos temem a morte e fariam o possível se pudessem adiar a morte por mais um dia. Veja que esse tema é recorrente em diversas obras literárias ou fílmicas, As Relíquias da Morte em Harry Potter, faria do seu possuidor o maior mago que já existiu, indestrutível e imortal; O Elixir da Vida de Nicolau Flamel que mantém vivo quem o beber durante toda a existência; Os filmes da franquia Premonição (Final Destination), em que os personagens, após terem enganado a morte, fazem de tudo para não caírem em suas garras novamente, entre tantos outros.

Em algum ponto, algum personagem sentirá o peso dos séculos e simplesmente não quererá ver mais outro amanhã. Na série “True Blood”, o vampiro milenar Godric se entrega ao sol e sente uma sensação de libertação ao não precisar enfrentar mais um dia de pesada existência, na liderança dos vampiros, fardo que carregou por milênios.
O vampiro Godric (True Blood) entregando-se ao ocaso da existência.

Ao prosseguir na leitura das divagações de Gulliver, entreti na minha infância – assim como o personagem, a ideia de que ser imortal seria bem legal. Se ao menos tudo ocorresse como ele pensava...

“Descobri que os Struldbruggs costumavam agir de modo semelhante aos mortais até chegarem a cerca de 30 anos de idade, quando então se tornavam melancólicos e desanimados, ficando cada vez mais assim até chegarem aos 80 anos, idade considerada extrema naquele país. Eram não apenas opiniáticos, iracundos, avaros, sorumbáticos, vaidosos e palavrosos, mas também incapazes de formar amizades, e indiferentes a todos os afetos naturais. Os objetos a que mais se dirige sua inveja são os vícios dos mais jovens e as mortes dos velhos. Ao refletir naqueles, veem que não lhes resta nenhuma possibilidade de prazer; e diante de um enterro, lamentam-se por saber que aos outros cabe um refúgio de descanso a que eles jamais hão de ter acesso. Não se lembram de nada senão do que aprenderam ou observaram na juventude e na meia-idade, e mesmo essas lembranças são mui imperfeitas.

Aos 90 anos perdem os dentes e os cabelos, nem sentem mais nenhum gosto. Quando falam, esquecem o nome comum das coisas, e o das pessoas, até mesmo dos amigos e parentes mais próximos. Pelo mesmo motivo, não podem eles divertir-se com a leitura, pois sua memória não lhes permite ir do início de uma frase ao fim dela; e por conta desse defeito são privados do único entretenimento que ainda poderiam desfrutar. Como a língua desse país está sempre em mutação, os Struldbruggs de uma era não compreendem os de outra, e tampouco podem, após o intervalo de 200 anos, trocar mais do que umas poucas palavras gerais com seus vizinhos mortais, e assim têm o dissabor de viver como estrangeiros em seu próprio país.

O leitor há de compreender que, a partir do que ouvi e vi, diminuiu deveras meu intenso apetite por uma vida perpétua. Muito me envergonharam as visões deleitosas que havia concebido, e ocorreu-me que nenhum tirano seria capaz de inventar uma morte tal qual eu não abraçasse com muito gosto para escapar de uma vida assim.”

Pensando por esse lado, não vou mais reclamar que não tenho tempo para as coisas que quero fazer. Vou ser mais disciplinado e seletivo e dedicar o tempo devido a cada coisa, antes que aquele cappuccino delicioso comece a me custar algumas horas de vida.

E você, leitor, lembra-se de algum filme que trate desse tema de uma maneira inovadora ou cativante? O que você faria se vivesse séculos, aproveitaria bem ou se sentiria depressivo como alguns desses personagens? Deixe seus comentários.

Abraços.

domingo, 23 de outubro de 2011

I Encontro de Tradução em Pernambuco – Algumas Palavras.

Veja como começou e tudo o que aconteceu neste fantástico Encontro.


No último dia 15 de outubro, aconteceu pela primeira vez no Estado um Encontro de Tradução. A iniciativa partiu da Banca de Estudos - Tradutores Juramentados – JUCEPE (Concurso), um grupo criado no Facebook com a intenção de agregar interessados e candidatos ao concurso para preenchimento das vagas de tradutores públicos da Junta Comercial de Pernambuco a fim de estudarem juntos e levantarem materiais úteis para a preparação ao Exame.

A ideia da Banca, idealizada pelo estudante de Direito Rodrigo Farias (candidato ao cargo de tradutor juramentado em língua alemã), sempre foi a de ter um ponto de encontro virtual em que as pessoas pudessem conversar, compartilhar ideias e trabalhar colaborativamente para o sucesso de todos na realização do Exame. Longe de se verem como concorrentes, os integrantes da Banca sempre prezaram pelo espírito de equipe e ajuda mútua que atraiu diversos participantes desde a sua criação no mês de junho e conta hoje com mais de 200 integrantes, muitos até de estados como Paraná, Rio Grande do Sul e Pará.

Já que o objetivo não era apenas uma reunião de pessoas para estudar para um concurso em particular, diversas ações foram iniciadas para integrar os participantes e gerar conteúdos e iniciativas que fossem além do propósito inicial. Assim, encontros entre os primeiros membros ocorreram no mês de julho e de lá para cá as ideias não pararam de aparecer. Do compartilhamento de sites de estudos, glossários e provas de concursos antigos (alguns realizados havia mais de trinta anos), os projetos foram evoluindo até culminar com um dos mais representativos, importantes e, quiçá, históricos que a Banca ousou acreditar (e que é motivo deste post): O I Encontro de Tradução em Pernambuco.

Pensado, de início, como uma oportunidade para reunir profissionais e estudantes de Tradução, iniciantes ou veteranos, para discutir temas de interesse e trocar conhecimento, o Encontro ganhou forma e importância de um Evento Regional. Realizado no auditório da Faculdade Esuda, as 120 vagas (capacidade máxima que o auditório suportaria) foram preenchidas em menos de uma semana. Contaram para isso a repercussão que a Banca já vinha ganhando no Facebook, com o boca a boca de quem já a via como uma excelente ferramenta de colaboração, e a divulgação nos veículos de imprensa, como sites de notícias e uma rádio. Mas, talvez, essas tenham sido duas das razões mais óbvias com as quais se poderia explicar o repentino interesse por um campo que nem tem tanta visibilidade assim, e poderia muito bem ter passado em branco, sendo frequentado por alguns acadêmicos e estudantes igualmente envolvidos na área. Um fator que pode não ser tão saliente, mas que teve um papel fundamental é que uma iniciativa como esta nunca tinha sido realizada em nosso Estado!

“Por que essa atividade se mantém invisível em um país que durante 500 anos lê, pensa e sonha traduções das culturas que o têm dominado?” nos questiona a pesquisadora e tradutora Lia Wyler em seu livro Línguas, Poetas e Bacharéis – Uma Crônica da Tradução no Brasil, obra importante para todos que desejam conhecer a trajetória dessa atividade que tem se mantido invisível aos olhos dos brasileiros e de tantos outros povos, conquanto seja impossível de viver sem ela numa época em que a globalização não é mais novidade ou palavra da moda para ninguém.

Por que, sem motivo aparente, mais de 100 pessoas e outras tantas que ficaram na lista de espera, acorreram a participar de um evento que só deveria interessar a alguns poucos estudantes universitários, talvez a alguns professores de idiomas e aos próprios realizadores? Eu detesto fazer perguntas para as quais não tenho respostas, mas essa vai ser um delas. O que eu posso fazer é levantar algumas suspeitas. A primeira delas é a mesma que ensejou a criação da Banca de Estudos, que ensejou a realização do Evento (viu que tudo tá ligado?!): o Concurso da JUCEPE.

As pessoas estão começando a despertar para o fato de que tradução não é coisa para quem apenas sabe uma língua estrangeira e “resolve” traduzir para melhor aproveitar seus conhecimentos, fazer um bico ou ajudar um amigo. Tradução é coisa séria. Exige prática, preparo, muita dedicação, interesse ininterrupto para pesquisar sempre e nunca se dar por satisfeito ao achar que fez um trabalho bom. Ah, por acaso eu esqueci de mencionar que é uma indústria milionária? Hmm, talvez não aqui no Brasil. Ainda. Mas lá fora...

Você, caro leitor, se não tinha parado para pensar nisso, talvez só pensasse na tradução quando visse um trabalho mal feito. Se já leu algo muito bom, rolou de rir ao assistir um filme da Disney dublado e entendeu tudo numa conferência de medicina cujo palestrante era chinês, mas você não entendia a língua dele, talvez não tenha se dado conta de que um tradutor ou intérprete tenha trabalhado arduamente para fazer com que você tivesse a melhor experiência possível. E isso sem você saber que ele estava lá. Entendeu por que eu disse lá em cima que é uma profissão invisível? Agora, óbvio, se você teve problema ao assistir a um filme legendado e comparou ao original que ouviu, certamente o tradutor vai saltar na sua frente e receber todos os insultos que sua mente criativa puder pensar. É injusto, eu sei, mas é assim que acontece: se é bom é invisível; se é ruim, você percebe.

Contudo, qualquer que tenha sido a sua percepção até este momento, o fato que a tradução continua sendo uma atividade que movimenta dinheiro ainda está lá. Pare de pensar por um momento apenas nos tradutores literários, que traduzem os livros policiais que você lê e despertam a ideia romântica de um artesão solitário, que passa semanas em busca da palavra perfeita. Comece a ampliar seus horizontes. Pense também nos tradutores técnicos, aqueles que traduzem os manuais de equipamentos eletrônicos, manuais de construção civil, nos tradutores audiovisuais, que traduzem os roteiros das séries e filmes a que você assiste, nos tradutores dos jogos com os que você brinca, nos tradutores de contratos internacionais, de sites da internet, nos intérpretes de conferência, de cortes internacionais, de premiações mundiais, intérpretes de comunidades de estrangeiros, de hospitais, de reuniões empresariais... Viu como são muitos os campos de atuação nos quais talvez você nunca tenha parado para pensar?

Com a abertura do processo de seleção para provimento das vagas de Tradutor Público e Intérprete Comercial – mais conhecido na praça como Tradutor Juramentado – as pessoas passaram a perceber que a tradução é algo no qual elas podem investir, algo que pode ser feito aqui mesmo perto de casa, sem precisar ir a Rio ou SP. Pernambuco é um dos mais respeitados polos médicos e de informática do país. Todo ano, muitos eventos necessitam da atuação de intérpretes para a sua perfeita realização, cada vez mais documentos precisam ser traduzidos, filmes adaptados, e diálogos compreendidos por quem não fala a outra língua. Com o crescimento de Suape e o desejo de cada um pegar a sua fatia do bolo, como deixar passar um evento como este, em que uma profissão tão esquecida teria um dia só pra si, com profissionais atuantes partilhando suas experiências, mostrando as dificuldades e atalhos, estudantes e pesquisadores debatendo sobre as perspectivas futuras, e a plateia podendo ter acesso a algo tão necessário, mas ao mesmo tempo tão distante?

O Evento

Foi assim, que no sábado 15, as pessoas compareceram de manhã cedo para passar o dia assistindo a palestras e debates interessantíssimos e atuais sobre as diversas facetas desta atividade. Abrindo o dia, tivemos o idealizador da Banca, Rodrigo Farias, falando dos primeiros meses de existência do grupo, realizações, conquistas e projetos futuros. Em seguida, o estudante de Ciências Políticas e pesquisador em Linguística Comparada, Wander Amorim, apresentou as várias modalidades de tradução a que o iniciante pode se dedicar, aproveitando também para mostrar a necessidade (tantas vezes esquecida) de que, tão ou mais importante que deter o domínio da língua estrangeira é conhecer a língua portuguesa. Ele apresentou uma breve história do idioma, desde suas origens na região da Galícia, norte de Portugal e noroeste da Espanha, terminando com uma crítica à mais recente Reforma Ortográfica experimentada pelo idioma de Camões.
                                               O Palestrante Wander Amorim


Dando continuidade, este que vos escreve, formado em Tradução pela UFPE e realizando pós-graduação em Metodologia da Tradução na FAFIRE, abordou o Ensino da Tradução na Universidade. Com uma temática pretendida a ser polêmica em alguns pontos, busquei despertar nos presentes uma reflexão mais real sobre o ensino da Tradução nas instituições de Ensino Superior no Brasil, repensar a extrema devoção à teoria e cobrar mais carga horária prática para os graduandos e mostrar como a realização de eventos como este traz um impacto imediato mais eficaz do que as pessoas podem supor.
                      Minha palestra sobre o ensino da tradução na Universidade.


Em seguida à minha palestra e complementando-a, veio a intérprete Ju Chaade, que tratou das práticas de mercado atuais, de como conhecê-lo, como chegar ao cliente, além de apresentar ao público o mais novo curso prático de formação em tradução disponível em Pernambuco. Após o almoço, contamos com a presença do intérprete de conferências Sávio Bezerra, que mostrou aos presentes as características e exigências da profissão. Colada a esta palestra veio uma das mais esperadas do dia: a presença do Tradutor Público Francisco Rosário, que apresentou a todos um pouco mais das atribuições deste profissional, motivo pelo qual muitos tinham prestado o exame da JUCEPE e estavam no Evento aquele dia. Após as duas palestras da tarde, houve um debate conjunto com os dois palestrantes e a plateia pôde tirar todas as dúvidas, aprendendo muito com eles e também se divertindo com os momentos de descontração em que os intérpretes falaram das situações mais pitorescas pelas quais já passaram em sua carreira.
              Francisco Rosário (à esq.) - Tradutor Público e Intérprete Comercial
                              Sávio Bezerra (à dir.) - Intérprete de Conferências.


Assim, aproximando-se do final do Evento, o dia foi concluído com a exibição de um vídeo do Assessor do Presidente de Suape, Jairo Farias, o qual não pôde comparecer pessoalmente. Jairo elogiou a iniciativa, falou brevemente de como aprendeu mais de 20 línguas e outros tantos dialetos e instigou a todos que perseverassem em seus estudos e aspirações profissionais.

O dia foi encerrado com o sorteio de brindes dos patrocinadores, bolsas de estudos e livros de tradução. Diversos foram os agradecimentos dos participantes, mostrando-se surpresos com o nível de organização das atividades e o alto nível das palestras. Sem dúvida, o I Encontro de Tradução de Pernambuco superou todas as expectativas de quem participou, e deixou na gente (palestrantes ainda mais) um gostinho de quero mais.

Um dos fatores mais dignos de nota é que o Evento foi inteiramente organizado por um pequeno grupo de pessoas, com pouca ajuda e muita determinação. Não podemos negar que os patrocinadores foram essenciais na consecução dos objetivos, mas até chegar até eles houve uma bela jornada! Talvez o que eu queira mesmo dizer é que o porte deste evento foi comparado ao que é realizado pelas Universidades ou Associações Profissionais país afora que, diga-se de passagem, cobram taxa de inscrição pela participação – o que é justo, já que os gastos precisam ser arcados por alguém. Já no I Encontro de Tradução em Pernambuco, os participantes tiveram acesso gratuitamente, sendo-lhes pedido – como uma iniciativa social – que levassem um quilo de alimentos para ser doado a uma organização de caridade. Todos receberam um kit de inscrição com pasta, bloco, caneta e régua; concorreram a camisas, pen drives, leques, livros e bolsas de estudos, além de ter acesso em primeira mão aos próprios profissionais da área, com suas dicas e conselhos valiosos, sem contar o networking (contato profissional).

O I Encontro de Tradução em Pernambuco sem dúvida terá sido um marco no resgate do interesse por esta atividade no Estado e trará muitas consequências positivas e iniciativas dele derivadas que beneficiarão tanto aos que participaram quanto aos que não puderam comparecer. Quem duvida disto, basta olhar a história. O I Encontro Nacional de Tradutores a ser realizado no país foi em 1975, uma iniciativa da PUC do RJ (a primeira universidade a oferecer o curso de tradução no País) e da então recém-criada ABRATES (A Associação Brasileira de Tradutores). Daquele histórico evento sairiam diversas realizações, sendo uma delas o pedido para regulamentação da profissão de tradutor. Embora não conquistado, a movimentação permitiu que a profissão fosse ao menos reconhecida e permitida a ter um sindicato. 

                  I Encontro Nacional  (1975) e I Encontro de Pernambuco (2011)
                             Os convites de ambos os eventos de Tradução.


Assim, que as ações desencadeadas naquele sábado, dia 15, estejam trabalhando silenciosamente neste momento para que muitos frutos sejam gerados e colhidos num futuro breve aos praticantes, formados, interessados e veteranos nesta que é a segunda profissão mais antiga do mundo!

Abraços.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

30 Rock

Uma redatora solteira à procura de um amor, uma atriz em busca da eterna juventude, um ator em busca de nada e fãs em busca de risadas.


30 Rock é uma das melhores séries de comédia da atualidade e da qual sou fã de carteirinha. A fórmula pode até não ser nova: uso de metalinguagem para falar dos bastidores de uma série de comédia. Mas os clichês (se é que chega a tanto) param por aí. 30 Rock tem como idealizadora, roteirista, produtora e protagonista uma das mulheres mais inteligentes da televisão, Tina Fey.

Tina começou na TV como comediante do também humorístico Saturday Night Live (SNL), um dos programas mais duradouros e de maior sucesso da TV americana. O SNL já é tão integrado à cultura americana que seu horário é sagrado nos fins da noite de sábado e até Oprah Winfrey (dispensa apresentações) dedicou um programa especial na sua temporada de encerramento só com os melhores momentos e com os principais integrantes da equipe de SNL de todos os tempos. Estavam lá veteranos como Chevy Chase, que participou de um das primeiras temporadas, Dana Carvey – famoso intérprete da sempre lembrada Church Lady (A Beata), e Tina Fey.

Eu não costumo ter um ídolo só em minha vida. Aliás, não tenho ídolo nenhum, mas sim pessoas em quem me inspiro e acho que têm muito a contribuir no meu crescimento intelectual. De tempos em tempos, vou mudando essas referências. Não sigo nenhum padrão definido para fazer isso, basta que apareça outra pessoa que desperte minha curiosidade intelectual que eu passo a estudar os passos que aquela pessoa percorreu para o sucesso– não necessariamente para repeti-los, mas como eu disse, para me inspirar. Uma dessas pessoas atualmente é Tina Fey.

Ela chegou de mansinho, como quem não queria nada, insinuando-se em minha grade de programação até conseguir chamar minha atenção para a sua fantástica inteligência e versatilidade. Tina é mãe, esposa, dona-de-casa (se parasse por aí, já mereceria louvor – como merecem todas as mulheres multi-tarefa), mas também é atriz, autora, redatora e produtora executiva de um dos programas de maior sucesso da atualidade. Vale ressaltar que ela foi a primeira mulher a ser a roteirista-chefe do Saturday Night Live, que já está no ar há mais de 35 anos!

A multi-multi Tina Fey

Se você assistir 30 Rock, não vai precisar ser convencido de que a série é boa, mas caso seja uma pessoa resistente, abaixo eu elaborei rapidamente um top 5 de cinco motivos pelos quais eu acho que esta série vai agradá-lo:

Cinco motivos por que você vai gostar de assistir a 30 Rock:

5. O programa é baseado nas próprias peripécias de Tina enquanto chefiava a equipe de roteiristas e atores de SNL. Quem alguma vez já assistiu a esse último, sabe como é o esquema e entende a importância disso. A equipe é simplesmente doida; hilária, mas doida: eles ensaiam durante uma semana o que vão exibir no sábado e os esquetes são encenados ao vivo, podendo mudar tudo na última hora. Haja improvisação. Imagina o que não rola nos bastidores?! Quer ter uma ideia? 30 Rock.
A abertura do humorístico Saturday Night Live – 
       marco na cultura pop televisiva americana.
4. Assistindo 30 Rock no canal Sony (se não me engano passa na TV aberta também, mas não conta pra essa minha dica) tem mais outro motivo: a tradução é muito boa. Já faz tempo que choviam críticas com as legendas feitas para a TV paga, desde erros grosseiros até falta de respeito pelo telespectador – quando chegava ao ponto de um programa ser exibido sem tradução nenhuma. Há quem diga que hoje ainda não está 100%, mas mudou muito e pra melhor. Possivelmente, o crescimento de traduções amadoras divulgadas em sites de download, feitas por fãs indignados com a falta de qualidade e com a pressa de assistir logo aos novos episódios, impulsionou os canais a buscarem mais eficiência e um padrão superior para a exibição de suas produções. Como tradutor, posso dizer que 30 Rock está incluída nessa safra de novos shows com uma boa tradução. Outro canal que também oferece traduções excelentes – pelo menos nos que eu consigo acompanhar – é o AXN, mas como ele não é o tema do post, vamos deixar quieto.

Programa de humor já é dificílimo de fazer, pois envolve situações muito específicas de uma cultura, se você não acompanhar os assuntos que acontecem ao seu redor, é capaz de não entender as sátiras feitas em seu próprio idioma, imagina agora ter a responsabilidade de traduzir um programa de comédia da cultura americana e ainda conseguir ser engraçado, conseguindo manter a piada e muitas vezes até fazer trocadilho?! Ponto para o canal Sony por ter a preocupação de atender a essa demanda, mostrando respeito pela audiência e pelo programa original!

Tina Fey como Liz Lemon numa das cenas de 30 Rock, 
que teve a participação de Oprah Winfrey.
3. O terceiro motivo é que a série tem várias “camadas”. Isso quer dizer que ela tem a capacidade de atender a vários gostos. Se você está só passando e quer dar umas risadas, pode ir chegando. Se quiser acompanhar vários episódios, diverte-se mais ainda. Se você, como eu, gosta de procurar referências e descobrir nas entrelinhas dos diálogos as críticas e o sarcasmo que permeiam o mundo corporativo e os relacionamentos interpessoais, tem uma camada mais profunda e inteligente da série. E essa camada vale muito a pena. Não é à toa que 30 Rock recebeu 22 indicações só para o Emmy de 2009, batendo o recorde de série de comédia com mais indicações em um só ano. Ao todo, a série já conquistou 55 prêmios! Uau.

“Tracy Jordan para um de seus companheiros: ‘Não me interrompa enquanto eu o estiver ignorando!’

2. O segundo motivo é derivado do anterior: a série não só mostra os bastidores da produção de um programa de TV, com suas loucuras, egos inflados e atores “carinha bonita/sem conteúdo”, mas também apresenta uma interessante visão do mundo corporativo. Há varias situações com as quais podemos nos identificar: problemas de hierarquia, insubordinação, trabalho sobre pressão, pouco tempo para se dedicar à vida afetiva, porque o trabalho o consome quase inteiramente, etc. É preciso lembrar que esses são os maiores problemas da personagem principal Liz Lemon, interpretada por Tina. Seu chefe, Jack Donaghy, interpretado pelo excelente Alec Baldwin, vive em outra esfera. Ele é o executivo vice-presidente de programação da costa leste e da divisão de micro-ondas da GE (!) entendeu? Se não, não se preocupe, a série está aí para confundi-lo também, uma pessoa que ocupa um cargo com atribuições tão díspares quanto Jack tinha que estar em 30 Rock.  O personagem de Baldwin é inspirado em vários altos executivos de grandes empresas que conhecemos, Jack Welch é um deles.

“Jack para Liz, sobre um problema no estúdio: ‘Meu Deus, isso vai ser pior que Katrina! Vocês lembram da Katrina, né, nossa última secretária?!’ “

1. O primeiríssimo motivo é justamente a metalinguagem. A série é riquíssima em situações que fazem referência a si mesma, à própria rede de TV que a exibe nos EUA (a NBC – fonte das maiores críticas e piadas impagáveis veiculadas na série), ao mundo do mercado de trabalho, da televisão, da concorrência e mil outras coisas difíceis de listar porque em cada episódio somos surpreendidos com a criatividade e sagacidade do roteiro. Entre as autorreferências estão o próprio conglomerado dono da NBC, a General Eletric, ou GE. Num dos episódios, um executivo que tenta tomar o cargo de Jack vende o “E” da marca GE e diz que eles se chamarão agora só G, a compradora seria a Samsung, que passaria a se chamar Samesung!

A propósito, uma das coisas que vejo pouca gente fazer quando vai ver um filme ou acompanhar uma série de TV é se perguntar “Por que esse título?” Eu costumo fazer muito isso e pode ser bem interessante na maior parte dos casos. Muitos filmes têm nomes simples e não criam tanta expectativa; já nas séries a criatividade (ou falta dela) pode correr solta. Para quem se perguntou ao começar a ler o post por que a série se chama 30 Rock, aí vai: provavelmente você se lembra da arquitetura do prédio Empire State em Nova York, não? Pois o prédio em que fica a sede da NBC, a emissora que exibe e é escrachada em 30 Rock, é o GE Building e lembra muito o Empire State. Ele fica num complexo cujo endereço é 30 Rockfeller Plaza (em inglês o número do endereço vem antes), daí os mais íntimos abreviarem para 30 Rock o endereço dos estúdios onde a série é (parcialmente) gravada e exibida.

Para quem quiser acompanhar todos os episódios já exibidos, há tempo de sobra. Além da temporada mais recente que está sendo re-exibida na Sony nas noites de quinta, vale a pena alugar ou comprar os boxes de DVDs de todas 5 temporadas e dar boas gargalhadas até o fim do ano, pois a sexta temporada só está prevista para 2012. Por quê? Tina está grávida novamente e como ela conquistou o poder de dar uma pausa na sua carreira e retomá-la depois, a gente fica por aqui aguardando ansiosamente o seu retorno.

Abraços!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Amor sem Escalas – parte 3.

Última parte da trilogia de posts de Amor sem Escalas. 
O assunto de hoje é demissão.


        “People do crazy shit when they are fired



O filme Amor sem Escalas foi bastante ousado em tratar do assunto demissão, especialmente quando os EUA estavam no pico da recessão financeira e milhares de pessoas estavam perdendo seus empregos. Uma curiosidade é que os figurantes dos papéis de funcionários demitidos são pessoas comuns que realmente perderam seus postos na crise e contaram suas experiências no filme, replicando a situação vivida (exceto o ator que aparece no início e quebra tudo no escritório quando recebe a notícia, daí a citação em inglês que encabeça esse post. Aquele personagem é interpretado pelo ator Zach Galifianakis de “Se Beber Não Case” partes 1 e 2).

Para muitos, reviver a situação na frente das câmeras foi como terapia. A produção pôs anúncios em jornais convidando pessoas que tivessem perdido seus trabalhos em consequência da crise a participar da gravação. Assim, muita gente pôde relatar o que gostaria de ter dito ao chefe naquele momento. Segundo relato de alguns, participar do filme lhes permitiu reconquistar um pouco do respeito próprio após sofrer uma das experiências mais humilhantes da vida.

Amor sem Escalas traz momentos muito sensíveis. À primeira vista, podemos nos enganar com sua história que traz pitadas de comédia, mas no fundo o filme é um drama que toca num assunto polêmico e delicado para muita gente.

Particularmente, eu nunca tive que demitir ou comunicar a demissão de ninguém, mas já trabalhei com vários colegas que foram desligados. A situação é muito delicada. Assim como o filme bem retrata, têm-se diversas reações: há quem ria (de verdade ou de nervosismo), há quem chore, há quem xingue e há quem fique em choque, só não há quem fique incólume. Para alguns, ser demitido pode trazer sentimentos de raiva e de injustiça (por que eu? sempre fui comprometido, dedicado, nunca faltei, já vim trabalhar doente, etc.). Para outros, pode ficar o aprendizado – o que poderiam ter feito melhor em suas atividades, o que levarão de lições ou que erros deixarão de cometer em futuros empregos.

O que muita gente não entende é que emprego é um contrato, por isso se chama Contrato de Trabalho. Se um dia você acordar sem vontade de trabalhar e quiser romper o contrato você pode. Por ser um contrato, existe uma multa ao rompê-lo, que para o funcionário é não receber seu FGTS, seguro desemprego e outros vencimentos. Se por outro lado, for a empresa que decidir desligá-lo, ela é que arca com as penalidades, e o funcionário recebe tudo certinho, na ponta do lápis (Bom, na maioria dos lugares é assim, e a CLT está aí para garantir isso.)

Oras, se o funcionário pode quando lhe der na veneta romper o contrato sem dar qualquer satisfação ou explicação plausível, por que o empregador, em tese, precisaria? Pensando em termos éticos, espera-se que o empregado ou empregador tenha respeito pela outra parte e ofereça uma justificativa para o desligamento e se possível, cumpra o aviso prévio. O aviso prévio serve para, no caso do funcionário que se demite, dar tempo ao empregador de buscar um substituto e para a empresa se organizar e absorver as funções deste; já no caso de quem é desligado, o aviso serve para a pessoa ter um tempo razoável de buscar outra ocupação e não ficar tanto tempo parada. Qualquer que seja o caso, num cenário ideal ambas as partes devem trabalhar para que a situação não ocorra em clima de tensão ou hostilidade. No dia a dia, a realidade é bem diferente.        
             
Para ilustrar o meu ponto de vista, vamos pensar em termos de relacionamento amoroso. Imagine um casal de namorados. Uma das partes não tem mais interesse em permanecer naquela relação – vai adiantar o outro dizer que sempre se comprometeu, sempre esteve lá, fez tudo o que o outro quis, foi namorar doente, de atestado e tudo?? Quando chega ao fim, chega ao fim. É triste, mas é isso. A empresa pode demitir alguém porque não está satisfeita com o trabalho daquela pessoa, porque precisa realmente reduzir custos, ou simplesmente porque tem outras estratégias e direcionamentos que não mais incluem o funcionário. Quanto a isso, infelizmente não adianta espernear.


O funcionário pode ser competente, comprometido, ambicioso, mas não ser mais interessante para aquela organização. Isso é tão verdade, que as grandes empresas e multinacionais oferecem serviços de reposicionamento, isto é, oferecem todas as condições para que o funcionário desligado tenha à disposição maneiras necessárias de se reinserir no mercado. Isso se dá através de uma consultoria especializada que avalia o currículo, busca cursos de atualização e muitas vezes até dispõe de um ambiente em que a pessoa pode frequentar algumas vezes por semana para usar telefone, internet, etc e fazer contatos com recrutadores. Óbvio que isso tem um custo para a empresa e esse benefício só é oferecido quando a empresa considera o ex-funcionário muito bom e que só não é mantido na organização porque esta não mais terá condições de aproveitar seu perfil. Essa situação é mostrada no filme quando Ryan conduz o processo em algumas organizações e no “pacote de benefícios” está incluído tal serviço.

Se há uma coisa que pode valer de consolo é que ser demitido definitivamente não é o fim do mundo. Para quem acabou de perder seu cargo, principalmente se estava indo bem e tinha planos de crescer naquela empresa, isso pode parecer frase de quem não tem mais o que dizer, ou simplesmente autoajuda, mas a verdade é que é simples assim. Permita-se sofrer, reflita, converse, tire uns dias para si mesmo, relaxe, faça uma viagem curta se tiver condições e logo em seguida trace planos. Quer um conselho melhor ainda? Tenha planos antes que isso aconteça e não seja pego desprevenido. A melhor maneira é investir em si mesmo, estude inglês (se ainda não sabe), ou aprenda outras línguas se já falar inglês. Esteja sempre por dentro do que acontece no mundo, especialize-se, acompanhe as novas tecnologias e descubra o que o mercado quer e precisa. Acima de tudo, faça contatos. Hoje em dia mais de 60% das conquistas de emprego se devem à indicação de amigos ou conhecidos.

Não se desespere. Muita gente acha que o emprego que tem no momento é o melhor do mundo e que não pode conseguir nada melhor. Engana-se. Sempre há algo mais desafiador e recompensador para o qual vale a pena tentar. Sabe as pessoas que perderam o emprego na crise e deram depoimento no filme? Em menos de um ano conseguiram novos trabalhos! Vários colegas que trabalharam comigo estão em outras empresas e se dando muito bem. Como diria Ryan Bingham “Muitas pessoas que lideraram impérios sentaram onde você está hoje e por isso conquistaram o sucesso!”

Um grande abraço e até a próxima!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Amor sem Escalas – parte 2.

Continuando o post da semana passada, quando falamos das viagens a trabalho de Ryan, fiquei devendo falar mais sobre isso.


A vida de quem viaja a trabalho pode parecer bem glamourosa à primeira vista, mas se mostra bastante complexa e exigente quando analisamos mais de perto. O primeiro mito que precisamos derrubar é o de que viajar a trabalho é (somente) diversão. Coloquei o ‘somente’ entre parênteses, pois há, sim, divertimento. Entretanto, viajar a trabalho pode ser mais cansativo do que ficar na sua própria cidade. Isso porque quem viaja muito a trabalho está sempre em contato com clientes, sócios, diretores – os quais já têm suas agendas apertadas e suas próprias expectativas. Assim, é preciso ter muita eficiência e organização para otimizar o tempo e os custos investidos na viagem.

A primeira etapa é os preparativos pré-viagem. Eu costumo usar uma lista de itens que não devo esquecer ao fazer minha mala, por exemplo. Era de esperar que por viajar bastante isso me fosse automático e rápido, mas é o que mais me exige atenção quando me preparo. Por não gostar muito de arrumar mala, eu passo bastante tempo re-conferindo os itens para ver se não esqueci nada.

No filme Amor sem Escalas, vemos claramente os macetes que Ryan usa para aproveitar seu tempo. O primeiro começa na arrumação da própria bagagem: ele só leva uma mala com tudo o que vai usar na viagem. Dessa forma, não precisa despachá-la, levando-a como bagagem de mão (também ajuda o fato de ele ser cliente VIP da American Airlines e ter um guichê exclusivo para lhe atender, mas não nos desviemos).

Particularmente eu emprego muito essa técnica, que é uma mão na roda. Se minha viagem for de até uma semana, consigo arrumar em uma mala tudo o que vou usar neste período e levo junto comigo. Um dia antes também faço meu checkin pela internet e não enfrento fila no aeroporto. Além de ser uma boa, pois me dá autonomia de resolver tudo sozinho, ainda ganho um tempinho pra chegar ao embarque mais próximo da hora do voo ou mesmo garantir um tempo livre para o caso de ocorrer um atraso no trânsito que me impediria de embarcar se eu chegasse depois de o despacho estar encerrado. Isso já me foi muito útil, pois por mais que você seja precavido, as coisas mais estranhas podem acontecer e dificultar seu dia. Na minha última viagem ao Rio, o taxista errou o caminho do Aeroporto (!) e de nada me adiantou sair bem cedo do hotel. Se não fosse o meu checkin prévio e minha bagagem de mão eu teria perdido meu voo para Fortaleza. Fui o último a entrar na aeronave.

Outra situação engraçada aconteceu quando ia para Fortaleza (to começando a achar que tem um padrão se repetindo com esta cidade hahaha). Desta vez o vacilo foi meu mesmo. Estava com bagagem de mão, mas deixei para fazer o checkin no totem de autoatendimento antes do voo. Cheguei com o que achava ser 40 minutos de antecedência, só que o voo não era às 7h20 da manhã como eu pensava, mas sim às 7h10. Tentei fazer o checkin na máquina e só dava erro. Quando me dirigi ao balcão, que por sorte estava vazio, a funcionária me informou que o embarque já estava encerrado. Gelei! “Meu Deus” – pensei, “eu tenho um treinamento para dar e se perder esse voo vou me ferrar.” Fiz uma cara de Gato de Botas do Shrek e a funcionária passou um rádio para saber se ainda tinha como eu embarcar. Como não precisava despachar nada, ela ainda conseguiu imprimir meu cartão de embarque e daí em diante uma situação cômica se sucedeu: ela saiu correndo pelo saguão do aeroporto pedindo que eu a acompanhasse e ia me perguntando enquanto eu tentava acompanhá-la “Você tem algum objeto cortante ou perfurante em sua bagagem?”, e eu gritando no caminho “não”, “alguma tesoura, objeto frágil ou quebrável?”, “não, não”. Passei no raio X e ela me deixou na porta da aeronave com um sorriso e uma bronca: “Hitalo, lembre que da próxima vez o voo é às 7h10 e não às 7h20!” “Sim, senhora!”. Neste mesmo dia usei esse caso como exemplo de bom atendimento no treinamento que ministrei.

Voltando a Ryan e sua eficiência, vemos como – se colocado em números e produtividade – cada minuto economizado é um minuto bem empregado em outra atividade. Ele mostra para a sua parceira – a que inventou a demissão pela internet – como o tempo perdido em filas de checkin pode ser aumentado grandemente ao longo de meses ou de um ano. Quem trabalha viajando entende bem o que é responder por produtividade, e produtividade nada mais é que hora útil bem empregada. É abrir o laptop (também conhecido como escritório portátil) enquanto o voo não decola e responder emails, fazer contatos, escrever relatórios, finalizar treinamentos e o que mais for possível ao forçar as leis da física e esticar o tempo. Salve Einstein!

Como eu não sou Ryan (ainda) e por mais que tente imitar seus macetes, a minha realidade é a seguinte: existe o lado glamouroso, a imagem despertada nas pessoas e nos amigos que acham que trabalhar viajando é o suprassumo do prazer. Mas, há também o lado real que eu já falei: Arrumar e desfazer as malas, pegar trânsito até chegar ao aeroporto (ai São Paulo!), chegar ao aeroporto efetivamente (ai Guarulhos!!), correr o risco de o voo atrasar ou ser cancelado, fazer checkin em hotel, preencher cansado depois de uma longa viagem a ficha com todos os dados possíveis e imagináveis que a Embratur pede que os hotéis obtenham (é um simples checkin,  não estou pedindo um empréstimo ao BNDES para construir o meu próprio hotel, damnit!) e muito mais que se pode agregar a esta listinha. Isso sem falar de você não poder realmente se programar para muitos eventos para o qual é convidado em sua cidade, pois sempre se está a mercê de precisar fazer uma viagem. Para Ryan isso não é problema, o desprendimento é sua filosofia – mesmo o desprendimento de sua própria família.

Mas, sim, existe o lado bom. Conhecemos várias cidades, nos tornamos mais safos para descascar certos pepinos, aprendemos muito do modo de vida dos locais e vemos que nosso mundinho não se resume a nossa casa e ... tem as milhas! Puts, como eu adoro acumular milhas. Adoro mesmo! Igualzinho ao personagem no filme. Ver o saldo crescendo a cada viagem, imaginando qual o máximo que você pode alcançar, fazer cálculo de qual horário, preço ou Cia é mais vantajosa para acumular milhas... nem dá vontade de trocar!

Eu acredito que quem gosta de viajar por lazer também gosta de viajar a trabalho. Meu trabalho é muito prazeroso e o que faço na minha cidade eu faço em qualquer outra, então, se há oportunidade de conhecer outros lugares, porque não sentar, relaxar e curtir a vista?! Sempre há alguma surpresa boa, uma aventura ou uma história engraçada para contar depois.

No último post sobre esse assunto vou falar do drama e peripécias do trabalho de Ryan: demissão. Vou dar meu ponto de vista sobre esse momento tão temido na vida profissional de muita gente.

Abraços pra quem fica que eu preciso ver se aqueles pontos da viagem de ontem já entraram na minha conta.

J