sexta-feira, 8 de julho de 2011

30 Rock

Uma redatora solteira à procura de um amor, uma atriz em busca da eterna juventude, um ator em busca de nada e fãs em busca de risadas.


30 Rock é uma das melhores séries de comédia da atualidade e da qual sou fã de carteirinha. A fórmula pode até não ser nova: uso de metalinguagem para falar dos bastidores de uma série de comédia. Mas os clichês (se é que chega a tanto) param por aí. 30 Rock tem como idealizadora, roteirista, produtora e protagonista uma das mulheres mais inteligentes da televisão, Tina Fey.

Tina começou na TV como comediante do também humorístico Saturday Night Live (SNL), um dos programas mais duradouros e de maior sucesso da TV americana. O SNL já é tão integrado à cultura americana que seu horário é sagrado nos fins da noite de sábado e até Oprah Winfrey (dispensa apresentações) dedicou um programa especial na sua temporada de encerramento só com os melhores momentos e com os principais integrantes da equipe de SNL de todos os tempos. Estavam lá veteranos como Chevy Chase, que participou de um das primeiras temporadas, Dana Carvey – famoso intérprete da sempre lembrada Church Lady (A Beata), e Tina Fey.

Eu não costumo ter um ídolo só em minha vida. Aliás, não tenho ídolo nenhum, mas sim pessoas em quem me inspiro e acho que têm muito a contribuir no meu crescimento intelectual. De tempos em tempos, vou mudando essas referências. Não sigo nenhum padrão definido para fazer isso, basta que apareça outra pessoa que desperte minha curiosidade intelectual que eu passo a estudar os passos que aquela pessoa percorreu para o sucesso– não necessariamente para repeti-los, mas como eu disse, para me inspirar. Uma dessas pessoas atualmente é Tina Fey.

Ela chegou de mansinho, como quem não queria nada, insinuando-se em minha grade de programação até conseguir chamar minha atenção para a sua fantástica inteligência e versatilidade. Tina é mãe, esposa, dona-de-casa (se parasse por aí, já mereceria louvor – como merecem todas as mulheres multi-tarefa), mas também é atriz, autora, redatora e produtora executiva de um dos programas de maior sucesso da atualidade. Vale ressaltar que ela foi a primeira mulher a ser a roteirista-chefe do Saturday Night Live, que já está no ar há mais de 35 anos!

A multi-multi Tina Fey

Se você assistir 30 Rock, não vai precisar ser convencido de que a série é boa, mas caso seja uma pessoa resistente, abaixo eu elaborei rapidamente um top 5 de cinco motivos pelos quais eu acho que esta série vai agradá-lo:

Cinco motivos por que você vai gostar de assistir a 30 Rock:

5. O programa é baseado nas próprias peripécias de Tina enquanto chefiava a equipe de roteiristas e atores de SNL. Quem alguma vez já assistiu a esse último, sabe como é o esquema e entende a importância disso. A equipe é simplesmente doida; hilária, mas doida: eles ensaiam durante uma semana o que vão exibir no sábado e os esquetes são encenados ao vivo, podendo mudar tudo na última hora. Haja improvisação. Imagina o que não rola nos bastidores?! Quer ter uma ideia? 30 Rock.
A abertura do humorístico Saturday Night Live – 
       marco na cultura pop televisiva americana.
4. Assistindo 30 Rock no canal Sony (se não me engano passa na TV aberta também, mas não conta pra essa minha dica) tem mais outro motivo: a tradução é muito boa. Já faz tempo que choviam críticas com as legendas feitas para a TV paga, desde erros grosseiros até falta de respeito pelo telespectador – quando chegava ao ponto de um programa ser exibido sem tradução nenhuma. Há quem diga que hoje ainda não está 100%, mas mudou muito e pra melhor. Possivelmente, o crescimento de traduções amadoras divulgadas em sites de download, feitas por fãs indignados com a falta de qualidade e com a pressa de assistir logo aos novos episódios, impulsionou os canais a buscarem mais eficiência e um padrão superior para a exibição de suas produções. Como tradutor, posso dizer que 30 Rock está incluída nessa safra de novos shows com uma boa tradução. Outro canal que também oferece traduções excelentes – pelo menos nos que eu consigo acompanhar – é o AXN, mas como ele não é o tema do post, vamos deixar quieto.

Programa de humor já é dificílimo de fazer, pois envolve situações muito específicas de uma cultura, se você não acompanhar os assuntos que acontecem ao seu redor, é capaz de não entender as sátiras feitas em seu próprio idioma, imagina agora ter a responsabilidade de traduzir um programa de comédia da cultura americana e ainda conseguir ser engraçado, conseguindo manter a piada e muitas vezes até fazer trocadilho?! Ponto para o canal Sony por ter a preocupação de atender a essa demanda, mostrando respeito pela audiência e pelo programa original!

Tina Fey como Liz Lemon numa das cenas de 30 Rock, 
que teve a participação de Oprah Winfrey.
3. O terceiro motivo é que a série tem várias “camadas”. Isso quer dizer que ela tem a capacidade de atender a vários gostos. Se você está só passando e quer dar umas risadas, pode ir chegando. Se quiser acompanhar vários episódios, diverte-se mais ainda. Se você, como eu, gosta de procurar referências e descobrir nas entrelinhas dos diálogos as críticas e o sarcasmo que permeiam o mundo corporativo e os relacionamentos interpessoais, tem uma camada mais profunda e inteligente da série. E essa camada vale muito a pena. Não é à toa que 30 Rock recebeu 22 indicações só para o Emmy de 2009, batendo o recorde de série de comédia com mais indicações em um só ano. Ao todo, a série já conquistou 55 prêmios! Uau.

“Tracy Jordan para um de seus companheiros: ‘Não me interrompa enquanto eu o estiver ignorando!’

2. O segundo motivo é derivado do anterior: a série não só mostra os bastidores da produção de um programa de TV, com suas loucuras, egos inflados e atores “carinha bonita/sem conteúdo”, mas também apresenta uma interessante visão do mundo corporativo. Há varias situações com as quais podemos nos identificar: problemas de hierarquia, insubordinação, trabalho sobre pressão, pouco tempo para se dedicar à vida afetiva, porque o trabalho o consome quase inteiramente, etc. É preciso lembrar que esses são os maiores problemas da personagem principal Liz Lemon, interpretada por Tina. Seu chefe, Jack Donaghy, interpretado pelo excelente Alec Baldwin, vive em outra esfera. Ele é o executivo vice-presidente de programação da costa leste e da divisão de micro-ondas da GE (!) entendeu? Se não, não se preocupe, a série está aí para confundi-lo também, uma pessoa que ocupa um cargo com atribuições tão díspares quanto Jack tinha que estar em 30 Rock.  O personagem de Baldwin é inspirado em vários altos executivos de grandes empresas que conhecemos, Jack Welch é um deles.

“Jack para Liz, sobre um problema no estúdio: ‘Meu Deus, isso vai ser pior que Katrina! Vocês lembram da Katrina, né, nossa última secretária?!’ “

1. O primeiríssimo motivo é justamente a metalinguagem. A série é riquíssima em situações que fazem referência a si mesma, à própria rede de TV que a exibe nos EUA (a NBC – fonte das maiores críticas e piadas impagáveis veiculadas na série), ao mundo do mercado de trabalho, da televisão, da concorrência e mil outras coisas difíceis de listar porque em cada episódio somos surpreendidos com a criatividade e sagacidade do roteiro. Entre as autorreferências estão o próprio conglomerado dono da NBC, a General Eletric, ou GE. Num dos episódios, um executivo que tenta tomar o cargo de Jack vende o “E” da marca GE e diz que eles se chamarão agora só G, a compradora seria a Samsung, que passaria a se chamar Samesung!

A propósito, uma das coisas que vejo pouca gente fazer quando vai ver um filme ou acompanhar uma série de TV é se perguntar “Por que esse título?” Eu costumo fazer muito isso e pode ser bem interessante na maior parte dos casos. Muitos filmes têm nomes simples e não criam tanta expectativa; já nas séries a criatividade (ou falta dela) pode correr solta. Para quem se perguntou ao começar a ler o post por que a série se chama 30 Rock, aí vai: provavelmente você se lembra da arquitetura do prédio Empire State em Nova York, não? Pois o prédio em que fica a sede da NBC, a emissora que exibe e é escrachada em 30 Rock, é o GE Building e lembra muito o Empire State. Ele fica num complexo cujo endereço é 30 Rockfeller Plaza (em inglês o número do endereço vem antes), daí os mais íntimos abreviarem para 30 Rock o endereço dos estúdios onde a série é (parcialmente) gravada e exibida.

Para quem quiser acompanhar todos os episódios já exibidos, há tempo de sobra. Além da temporada mais recente que está sendo re-exibida na Sony nas noites de quinta, vale a pena alugar ou comprar os boxes de DVDs de todas 5 temporadas e dar boas gargalhadas até o fim do ano, pois a sexta temporada só está prevista para 2012. Por quê? Tina está grávida novamente e como ela conquistou o poder de dar uma pausa na sua carreira e retomá-la depois, a gente fica por aqui aguardando ansiosamente o seu retorno.

Abraços!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Amor sem Escalas – parte 3.

Última parte da trilogia de posts de Amor sem Escalas. 
O assunto de hoje é demissão.


        “People do crazy shit when they are fired



O filme Amor sem Escalas foi bastante ousado em tratar do assunto demissão, especialmente quando os EUA estavam no pico da recessão financeira e milhares de pessoas estavam perdendo seus empregos. Uma curiosidade é que os figurantes dos papéis de funcionários demitidos são pessoas comuns que realmente perderam seus postos na crise e contaram suas experiências no filme, replicando a situação vivida (exceto o ator que aparece no início e quebra tudo no escritório quando recebe a notícia, daí a citação em inglês que encabeça esse post. Aquele personagem é interpretado pelo ator Zach Galifianakis de “Se Beber Não Case” partes 1 e 2).

Para muitos, reviver a situação na frente das câmeras foi como terapia. A produção pôs anúncios em jornais convidando pessoas que tivessem perdido seus trabalhos em consequência da crise a participar da gravação. Assim, muita gente pôde relatar o que gostaria de ter dito ao chefe naquele momento. Segundo relato de alguns, participar do filme lhes permitiu reconquistar um pouco do respeito próprio após sofrer uma das experiências mais humilhantes da vida.

Amor sem Escalas traz momentos muito sensíveis. À primeira vista, podemos nos enganar com sua história que traz pitadas de comédia, mas no fundo o filme é um drama que toca num assunto polêmico e delicado para muita gente.

Particularmente, eu nunca tive que demitir ou comunicar a demissão de ninguém, mas já trabalhei com vários colegas que foram desligados. A situação é muito delicada. Assim como o filme bem retrata, têm-se diversas reações: há quem ria (de verdade ou de nervosismo), há quem chore, há quem xingue e há quem fique em choque, só não há quem fique incólume. Para alguns, ser demitido pode trazer sentimentos de raiva e de injustiça (por que eu? sempre fui comprometido, dedicado, nunca faltei, já vim trabalhar doente, etc.). Para outros, pode ficar o aprendizado – o que poderiam ter feito melhor em suas atividades, o que levarão de lições ou que erros deixarão de cometer em futuros empregos.

O que muita gente não entende é que emprego é um contrato, por isso se chama Contrato de Trabalho. Se um dia você acordar sem vontade de trabalhar e quiser romper o contrato você pode. Por ser um contrato, existe uma multa ao rompê-lo, que para o funcionário é não receber seu FGTS, seguro desemprego e outros vencimentos. Se por outro lado, for a empresa que decidir desligá-lo, ela é que arca com as penalidades, e o funcionário recebe tudo certinho, na ponta do lápis (Bom, na maioria dos lugares é assim, e a CLT está aí para garantir isso.)

Oras, se o funcionário pode quando lhe der na veneta romper o contrato sem dar qualquer satisfação ou explicação plausível, por que o empregador, em tese, precisaria? Pensando em termos éticos, espera-se que o empregado ou empregador tenha respeito pela outra parte e ofereça uma justificativa para o desligamento e se possível, cumpra o aviso prévio. O aviso prévio serve para, no caso do funcionário que se demite, dar tempo ao empregador de buscar um substituto e para a empresa se organizar e absorver as funções deste; já no caso de quem é desligado, o aviso serve para a pessoa ter um tempo razoável de buscar outra ocupação e não ficar tanto tempo parada. Qualquer que seja o caso, num cenário ideal ambas as partes devem trabalhar para que a situação não ocorra em clima de tensão ou hostilidade. No dia a dia, a realidade é bem diferente.        
             
Para ilustrar o meu ponto de vista, vamos pensar em termos de relacionamento amoroso. Imagine um casal de namorados. Uma das partes não tem mais interesse em permanecer naquela relação – vai adiantar o outro dizer que sempre se comprometeu, sempre esteve lá, fez tudo o que o outro quis, foi namorar doente, de atestado e tudo?? Quando chega ao fim, chega ao fim. É triste, mas é isso. A empresa pode demitir alguém porque não está satisfeita com o trabalho daquela pessoa, porque precisa realmente reduzir custos, ou simplesmente porque tem outras estratégias e direcionamentos que não mais incluem o funcionário. Quanto a isso, infelizmente não adianta espernear.


O funcionário pode ser competente, comprometido, ambicioso, mas não ser mais interessante para aquela organização. Isso é tão verdade, que as grandes empresas e multinacionais oferecem serviços de reposicionamento, isto é, oferecem todas as condições para que o funcionário desligado tenha à disposição maneiras necessárias de se reinserir no mercado. Isso se dá através de uma consultoria especializada que avalia o currículo, busca cursos de atualização e muitas vezes até dispõe de um ambiente em que a pessoa pode frequentar algumas vezes por semana para usar telefone, internet, etc e fazer contatos com recrutadores. Óbvio que isso tem um custo para a empresa e esse benefício só é oferecido quando a empresa considera o ex-funcionário muito bom e que só não é mantido na organização porque esta não mais terá condições de aproveitar seu perfil. Essa situação é mostrada no filme quando Ryan conduz o processo em algumas organizações e no “pacote de benefícios” está incluído tal serviço.

Se há uma coisa que pode valer de consolo é que ser demitido definitivamente não é o fim do mundo. Para quem acabou de perder seu cargo, principalmente se estava indo bem e tinha planos de crescer naquela empresa, isso pode parecer frase de quem não tem mais o que dizer, ou simplesmente autoajuda, mas a verdade é que é simples assim. Permita-se sofrer, reflita, converse, tire uns dias para si mesmo, relaxe, faça uma viagem curta se tiver condições e logo em seguida trace planos. Quer um conselho melhor ainda? Tenha planos antes que isso aconteça e não seja pego desprevenido. A melhor maneira é investir em si mesmo, estude inglês (se ainda não sabe), ou aprenda outras línguas se já falar inglês. Esteja sempre por dentro do que acontece no mundo, especialize-se, acompanhe as novas tecnologias e descubra o que o mercado quer e precisa. Acima de tudo, faça contatos. Hoje em dia mais de 60% das conquistas de emprego se devem à indicação de amigos ou conhecidos.

Não se desespere. Muita gente acha que o emprego que tem no momento é o melhor do mundo e que não pode conseguir nada melhor. Engana-se. Sempre há algo mais desafiador e recompensador para o qual vale a pena tentar. Sabe as pessoas que perderam o emprego na crise e deram depoimento no filme? Em menos de um ano conseguiram novos trabalhos! Vários colegas que trabalharam comigo estão em outras empresas e se dando muito bem. Como diria Ryan Bingham “Muitas pessoas que lideraram impérios sentaram onde você está hoje e por isso conquistaram o sucesso!”

Um grande abraço e até a próxima!