quinta-feira, 12 de abril de 2012

Por que Recife vem se destacando no panorama da Tradução no Nordeste?

Tudo começa com uma ideia.”

Até junho de 2011, Recife era mais uma capital nordestina seguindo sua vida normal. Tudo caminhava como sempre caminhou no mercado de Tradução por aqui: interpretações simultâneas de eventos de negócios e de congressos acadêmicos, traduções de textos executadas por tradutores no anonimato de seus recantos e ponto. Parecia que Recife tinha se resignado a não ter uma presença forte neste terreno para contrabalancear o peso excessivo exercido por Rio e SP no sudeste do País. Mas, como reza a lenda que um bater de asas de borboleta pode causar um furacão do outro lado do mundo, tudo isto iria mudar muito em breve.

Está bem, bater de asas e furacão é só uma abertura dramática para o que eu pretendo trazer à tona com este texto. A verdade é que de um mês para outro, a visibilidade da profissão de tradução ganhou proporções nunca antes experimentadas em nosso estado.

Mas, antes de qualquer coisa, aqui vai um disclaimer: narrar uma série de eventos quando se está participando deles pode ser enganador. O distanciamento histórico é um bom companheiro quando se quer ter uma compreensão abrangente dos fatos. Porém, como eu não posso oferecer isso, e nem é do meu feitio ser historiador, a minha interpretação dos acontecimentos vai seguir a minha visão. Modéstia à parte, tive a sorte de participar desde as fases iniciais de todos os projetos e ações descritas aqui e esse trânsito nas diversas esferas me deu o embasamento para costurar os eventos que pretendo expor adiante.

Tudo foi desencadeado pelo anúncio do concurso para provimento de vagas ao cargo de Tradutor Público e Intérprete Comercial da Junta Comercial de Pernambuco (JUCEPE), o famoso Tradutor Juramentado. Como fazia 30 anos desde a realização da última seleção, este concurso criou uma expectativa diferenciada entre os profissionais da área e professores de idioma em geral, que na maior parte dos casos desconhecia o papel deste profissional, bem como suas condições laborais.

A partir de então, um pequeno movimento surgido no Facebook ganhou visibilidade com a proposta de juntar interessados em trocar materiais e dicas sobre a prova, bem como explicar essa carreira. O entusiasmo de uma nova geração de tradutores ou aspirantes, aliado a um forte desejo de sacudir o status quo e fazer a diferença levou a vários desdobramentos, cujos resultados vêm sendo sentidos de forma intensa.

O grupo de interessados no concurso que se juntara virtualmente passou a se encontrar fora das telas e ideias começaram a surgir. A primeira delas, grande – diga-se de passagem – foi a de um evento para se discutir a tradução. Com o sugestivo nome de “I Encontro de Tradução em Pernambuco”, o ciclo de palestras e debates que durou 1 dia inteiro apresentou ao público de Pernambuco as perspectivas e possibilidades desta atividade do ponto de vista de quem a pratica.

Com boa divulgação na imprensa e participação intensa, o I Encontro lotou o auditório da faculdade ESUDA em outubro de 2011, sem cobrar taxa de inscrição e com organização digna de evento de porte nacional.

Este evento também marcou o início de uma série de oportunidades que viria a prestigiar os interessados em se desenvolver ou iniciar neste ramo, e que até então dispunham de pouca informação ou nenhuma orientação sobre que caminho seguir.

A tradutora e diretora da Agência de Tradução MilkTrados, Julia Chaade, apresentou oficialmente esta empresa recém instalada em Recife e sua meta para o Nordeste, além de lançar a primeira edição do curso de formação profissional de tradutores de Pernambuco, que já teve duas turmas lotadas.

Muitas pessoas saíram dali dispostas a levar a sério esta carreira e um dos maiores ganhos foi juntar todos num encontro ao mesmo tempo social e profissional, permitindo a troca de experiências e a abertura de horizontes.

Na minha palestra, fiz uma crítica ao ensino puramente teórico da tradução nas universidades, um ensino meramente “ebúrneo”, para criar uma nova metáfora. Diz-se que os acadêmicos costumam ter o perfil de se fecharem em sua “torre de marfim” e esquecerem o mundo extramuros, daí a minha crítica a este ensino que visa à ‘arte pela arte’. Também ressaltei que focar somente na prática é deixar de usufruir de uma fortuna crítica que vem sendo alimentada há 2 mil anos, desde os primeiros escritos de Cícero. O caminho, finalizei, seria a união destas duas vertentes.

Ainda na minha palestra, louvei a iniciativa da Banca (nome dado ao grupo de estudos virtuais, que viria a ser renomeado posteriormente para o mais abrangente e não menos ousado TIBRA – Tradutores e Intérpretes do Brasil). Comparei aquele dia rico em palestras com o “I Encontro Brasileiro de Tradutores”, organizado pela recém-criada ABRATES e a Universidade do Rio de Janeiro, realizado em 1975, numa atitude inédita e muito frutífera que reuniria estudantes e profissionais para discutir a profissão, e de onde sairiam grandes promessas de mudanças. Infelizmente a tão sonhada regulamentação não veio, mas uma conquista acalentadora nasceu daquele encontro: o reconhecimento da profissão e consequente possibilidade de criação de um sindicato profissional.

Concluí, em tom um tanto profético, que o nosso ETP seria lembrado por desencadear uma série de acontecimentos que culminaria no fortalecimento do mercado de tradução em Pernambuco. Não sei se minha bola de cristal vai se mostrar certeira, mas o fato é que nada até agora me provou errado.

Na esteira do interesse despertado pelas palestras do mês anterior, em novembro de 2011 a Faculdade FUNESO convidou a mim e outro palestrante do I ETP (Wander Amorim) junto com a tradutora Denise Lorenzoni a apresentar trabalhos sobre tradução na I Semana de Letras da FUNESO. Mais uma prova de que o interesse não havia esmorecido e que o encontro de outubro havia causado boas repercussões na comunidade.

Com o fim do ano se aproximando, as possibilidades para 2012 começavam a se deslindar. É o que leremos no próximo texto. 

Não percam a continuação “2012 ou Great Expectations.