quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Conversas com Tradutores

E se sentássemos numa mesa de bar, descontraidamente, e juntassem-se a nós 22 tradutores das mais diversas áreas de atuação e começássemos a conversar sobre o tema? As áreas que atuam, o tipo de clientes que atendem, como a sociedade percebe e recebe seus trabalhos, sua remuneração, e muitos outros assuntos atuais e recorrentes que sem dúvida renderiam horas de conversas e pontos de vistas diferentes?

Talvez a improbabilidade desta cena se devesse apenas ao fato de que dificilmente as conversas seriam ordenadas. Ninguém pararia para ficar apenas ouvindo o outro falar, haveria conversas paralelas, piadas, brincadeiras e também assuntos sérios.

Pois bem, um livro que compila respostas a essas e outras perguntas existe, e nele se pode ler de forma organizada e prática as opiniões de vários profissionais da tradução, apresentando comentários inestimáveis sobre seu ofício, as pedras no caminho e os louros da atividade.


O segundo livro indicado nesta lista (leia a resenha do primeiro aqui) é uma seleção de 19 entrevistas com alguns dos mais reconhecidos tradutores e intérpretes de suas respectivas áreas de especialização no Brasil.


O livro Conversas foi um dos primeiros que comprei quando entrei na faculdade de Tradução. O que mais me chamou atenção nele foi a sua proposta: ser um livro atual que traz entrevistas com profissionais apenas da tradução, porém das mais variadas áreas de atuação. Num mercado em que a profissão de tradutor não tem tanto destaque, achar bons livros de tradução significa no mínimo saber mais sobre a teoria. Por isso, este livro veio romper com esta constância e nos brindou com uma obra feita por tradutores, para tradutores (sejam eles aspirantes, estudantes ou praticantes).

A obra foi organizada por dois tradutores profissionais e docentes do ramo: Ivone Benedetti e Adail Sobral. No livro, 19 profissionais da tradução técnica, empresarial, literária, jurídica, médica, jornalística, juramentada, de dublagem e legendagem, de localização e interpretação simultânea respondem a 10 questões, como numa entrevista, onde têm a oportunidade de expressar suas opiniões sobre as práticas e rotinas que encontram no seu ofício.



Panorama

Considero o livro bastante útil para quem quer conhecer mais a profissão de tradutor (ou deveria dizer “as profissões de tradutor”? já que são tão diversas) e poder perceber que dificilmente as pessoas percorreram caminhos parecidos. Uma coisa é você pegar o Guia do Estudante e ler a descrição da profissão, as possíveis áreas de atuação e a remuneração inicial; outra bem diferente é saber da boca de quem está nesse mercado há muitos anos o que realmente ocorre, que recomendações estas pessoas oferecem para quem quer trilhar este caminho e as delícias desta profissão.


Outra grande conquista desta obra é despir-se de linguajar puramente técnico e permitir ao leitor, qualquer que seja ele, desfrutar de uma leitura estimulante e fluida, deixando de lado o ranço acadêmico tão presente em obras técnicas, as quais acabam despertando o interesse apenas dos profissionais nela inseridos. O livro cumpre assim o papel, às vezes esquecido pelas universidades, de divulgação do saber. Como afirma Francis Aubert, em sua introdução, “há uma discrepância entre o volume do trabalho teórico produzido e a parcela de tal trabalho efetivamente divulgado.” 


As entrevistas deste livro bem poderiam ter sido veiculadas em meios de comunicação como internet, jornais e programas jornalísticos e teriam igual impacto e entendimento como o que é proporcionado pela leitura da obra. 


Conversas com Tradutores é um livro que vale a pena conhecer e divulgar. Como todos os livros resenhados nesta série sobre livros de tradução, a ideia é proporcionar uma sugestão de obras e temas tradutórios os mais diversos, a fim de iluminar a percepção da sociedade e dos interessados a respeito de uma atividade responsável por “contribuir com o estabelecimento de idiomas nacionais em países novos, como Israel, por exemplo, com o fortalecimento de sistemas literários jovens, através da importação de novos gêneros, e com os padrões literários de idiomas como o inglês (com a versão da Bíblia do Rei James) e o alemão (com a tradução da Bíblia de Martinho Lutero, que serviu de modelo para o alemão culto).”


No Próximo post falarei do livro Sua Majestade, o Intérprete.

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Abraços.





3 comentários:

  1. Tais dialogos são sempre necessarios. Vamos nessa. Parabéns.

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  2. Você sabia que não existe no curso de graduação para tradução, a matéria "tradução para dublagem!, e que poucos do meio acadêmico sabem da existência do "tradutor para dublagem". Há 2 anos dou o curso de técnica de tradução para dublagem na PUC-RJ, sou tradutora e dubladora há 16 anos e vivo uma luta constante pelo reconhecimento do tradutor de dublagem. Parabéns por sua matéria interessantíssima. Abraços. Dilma Machado.

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    1. Que informação interessante, Dilma. É de espantar que uma atividade que nos rodeia há tempo e nos é tão familiar careça desse espaço, até mesmo na Academia. Fico muito feliz que tenha gostado do meio escrito. Eu tenho uma paixão enorme pela tradução em geral e, em particular, por todas as modalidades do audiovisual. Tenho percebido que do ano passado para cá o mercado tem aberto os olhos para a dublagem devido às exigências dos canais. Imagino que a tradução para dublagem vá ganhar mais visibilidade. Gostaria de um contato seu e de mais informações sobre o curso de técnicas de Tradução para Dublagem, pois tenho interesse nessa área. Vi que a Gemini abriu um, mas quanto mais opções melhor. Só uma curiosidade, você seria amiga de uma tradutora chamada Cláudia Leite? (não a cantora rsrsr). Abraços!

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