terça-feira, 21 de junho de 2011

Amor sem Escalas – parte 1.


A primeira vez em que ouvi falar do filme Up in the Air (Amor sem Escalas, no título brasileiro), fiquei curioso para ver a história, pois na época que estreou no Brasil, já tinha sido indicado a vários prêmios lá fora e tinha recebido boas críticas.

A bem da verdade, eu nem sabia de que o roteiro tratava, pois nem o título original (que quer dizer Nas alturas) nem o nome que recebeu no Brasil entregam muita coisa sobre a história (quer dizer, no Brasil entregou um pouquinho mais que em inglês, porque aí eu soube que tinha amor na história, hahaha). Foi por uma reportagem na internet que descobri a trama e me identifiquei de cara.

O personagem de George Clooney, Ryan Bingham, é um consultor de RH que trabalha para uma empresa especializada em conduzir processos demissionais para outras corporações que não querem ter de lidar com esse momento delicado na história (melhor seria o fim da história) de um funcionário na empresa. Basicamente o que ele faz é viajar os EUA de ponta a ponta demitindo os funcionários que as empresas querem cortar por motivos diversos – redução de custos, realinhamento da estratégia e todo o jargão utilizado nessas situações.

Aqui vale uma ressalva: quando eu digo que me identifiquei com a história, não é porque eu saio por aí demitindo todo mundo. O que ocorre é que no ano em que o filme estreou eu tinha acabado de iniciar uma trajetória no departamento de Recursos Humanos como consultor Interno e muito da realidade ali retratada me passou a ser familiar. Ademais, passei a viajar bastante, tal como o personagem principal.

No filme, Ryan simplesmente adora viajar. O lugar em que ele mais se sente confortável é nos quartos de hotéis de luxo (do Hilton, pois o programa de fidelização deles é o melhor) em que se hospeda. Ele chega ao extremo de redecorar sua casa de verdade como um quarto de hotel, com paredes brancas e armários típicos desses ambientes. Sua satisfação é garantida no saguão dos aeroportos ao fazer checkin com seu cartão fidelidade VIP da American Airlines. Nas palavras dele, o ar reciclado, a iluminação fraca e artificial e as comidas à venda nos aeroportos são o que mais o satisfazem. Viajar mais de 300 dias por ano é sua realização, passar o restante em casa é um suplício.

Ryan é obcecado por juntar pontos fidelidade. Ele junta tudo quanto puder. Qualquer estabelecimento que tenha programa de fidelização tem grandes chances de conquistá-lo. Ele paga tudo no cartão de crédito para que os pontos conquistados na fatura sejam revertidos para sua conta. Mas, ele não faz isso com a intenção de trocar por um grande prêmio, uma viagem ao redor do mundo ou coisa que o valha. Ele simplesmente junta pelo prazer de juntar, pelo estímulo de alcançar uma marca pessoal que estipulou para si próprio e que só revela mais tarde no filme.

Sua carreira é “ameaçada” quando uma recém-doutorada com vários títulos acadêmicos e na casa dos 20 e poucos anos, chega com uma proposta que pode revolucionar o que a empresa para a qual Ryan trabalha está acostumada a oferecer. Ela promete cortar em até 80% os gastos com viagens dos consultores para se deslocar até o local da demissão com a implantação de um sistema parecido com um call center em que vários profissionais treinados podem realizar, através de vídeo conferência, uma demissão à distância. É o olho-da-rua 2.0!

Ryan fica estupefato. O que para outros seria uma excelente notícia, evitando uma vida cansativa e sem raízes, viajando de um lugar para o outro, é péssimo para ele. Afinal, viajar é o que ele sabe e gosta de fazer. Ele tenta argumentar com o chefe, mas fica difícil justificar uma recusa de redução de custos de 80% sem motivo aparente. Ele decide então atacar a “culpada” pelo seu infortúnio. Tenta mostrar para ela que tornar uma situação tão delicada quanto uma demissão em um momento frio e impessoal, e ainda por cima à distância, é o cúmulo da insensibilidade. Ele resolve, então, levá-la consigo para que ela veja o que é realmente conduzir uma demissão e porque é importante o cara-a-cara.

Daí em diante, ocorrem as melhores situações do filme. Existe comicidade e drama na medida certa. Fica também a sensação de vazio do personagem: um homem adulto na casa dos 40 anos que não tem um relacionamento sério e preenche suas necessidades com seu trabalho, as palestras que profere em hotéis e, ocasionalmente, com algumas executivas que conhece nos eventos em que penetra sem convite.

Apesar de extrema, a situação de Ryan retrata bem a vida de quem vive viajando. Vamos conversar sobre isso no próximo post?

Aguardo vocês!

Abraços.

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